Tucky,O cão assassino
O Tucky deve ter sido o pior cachorro que passou pela face da Terra. No mínimo, foi o mais barulhento: ele latia um latido agudo sempre que eu chegava de uma noitada, ou que uma visita passava pela porta da sala. Perdi a conta das vezes que me mordeu o dedo - porque era mordendo que ele respondia ao cafuné que eu fazia para agradá-Io. Meus amigos o apelidaram de Chucky, injustiça com o Brinquedo Assassino, nem de longe tão agressivo quanto nosso poodle toy. Tucky também era um animal inteligente. A ponto de saber que não deveria fazer xixi pela
casa e fazer mesmo assim, só para provocar. Era comum deitar para dormir e sentir um cheiro estranho no meu travesseiro. Xixi. Certa vez, encontrei montinhos em cima do colchão. Cocô. E então um dia aconteceu de o Tucky morrer. Foi em grande estilo: deu seu último suspiro enquanto toda a família estava à mesa para o jantar de sexta-feira. Minha irmã encontrou o defunto quando se levantou para ir ao banheiro. Foi um dos dias mais tristes da história lá de casa. O pessoal chorou de verdade – eu inclusive. Porque com o Tucky não tinha esse papo de ser o melhor amigo do
homem. Todos nós sabíamos que ele era um de nós, membro integral da família. O que sentíamos era amor incondicional, desses que sobrevivem a qualquer obstáculo. E amor assim a gente só entrega aos familiares. Fosse o Tucky um amigo, eu já teria deixado de ligar para ele há anos. Ir ao enterro? Sem chance. Isso para não falar nos outros animais que dividiram a casa conosco. Odia que nossos periquitos "fugiram" foi igual a qualquer outro. O peixinho foi parar no lixo menos de 5 minutos após deixar este mundo, e ninguém derramou uma lágrima. Os jabutis, eu não sei que fim levaram. Mas a morte do Tucky foi diferente. Para a família, ela é nosso 11 de Setembro, nossa morte do Tancredo, nossa chegada à Lua. O dia que jamais esqueceremos. Tudo isso por um cachorro que mordia quem tentava lhe fazer cafuné. Um abraço.