segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

OS ALEGRES VERSOS DO POETA DA MORTE

Se alguém me perguntasse onde está a perfeição na literatura, eu responderia em apenas uma palavra: Sonetos. Sua simplicidade e pureza são capazes de arrebatar a mente e o coração de todos que desejam vislumbra-lo. E se me perguntasse quem foi o melhor autor de sonetos, eu não saberia dizer, mas com certeza indicaria a este cargo Luís de Camões e William Shakespeare. Mas há um brasileiro que criou um dos mais belos conjuntos de sonetos: Augusto dos Anjos.
Sua genialidade é claramente percebida pela maneira em que compunha: costumava compor "de cabeça", enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excêntrica, e só depois transcrevia o poema para o papel. Fazia isso de forma tão vívida, que sua irmã pensava que ele estava doido. Mas sua sanidade é claramente vista em seus versos. Por exemplo, um exemplar de sua obra faz parte da biblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por causa dos termos científicos que Augusto dos Anjos utilizava em suas composições. Aos vinte e oito anos, publicou o seu único livro de poemas, intitulado EU. O tema deixa claro que sua poesia tentava expor todos os sentimentos e frustrações dentro do próprio ser (diferentemente da maioria dos autores da época, que concentravam numa outra pessoa o fundamento de seus versos). Sua poesia era tão triste e agressiva que ele foi chamado de “o poeta da morte e da melancolia”. Mas há alguns sonetos fogem a essa regra. Abaixo você verá um dos poucos poemas felizes de Augusto dos Anjos. Espero que gostem.


NOIVADO

Os namorados ternos suspiravam,
Quando há de ser o venturoso dia?!
Quando há de ser?! O noivo então dizia
E a noiva e ambos d'amores s'embriagavam.

E a mesma frase o noivo repetia;
Fora no campo pássaros trinavam.
Quando há de ser?! E os pássaros falavam,
Há de chegar, a brisa respondia.

Vinha rompendo a aurora majestosa,
Dos rouxinóis ao sonoroso harpejo
E a luz do sol vibrava esplendorosa.

Chegara enfim o dia desejado,
Ambos unidos, soluçara um beijo,
Era o supremo beijo de noivado!

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