domingo, 23 de maio de 2010

POLÊMICA NO CINEMA

Em sua grande maioria, as histórias nos filmes são ficções, o que é uma coisa boa, afinal de contas nós queremos assistir um filme para nos divertir. Mas, devido a sua popularidade, o cinema tem a obrigação de criar obras que façam as pessoas analisarem de forma crítica o sistema. O problema é que esse tipo de filme é raro, deixando indignados diretores que tem uma visão mais idealista sobre o cinema. Entre eles está o ganhador de três Oscar’s Oliver Stone, que recentemente fez críticas a diretores de cinema que fazem grandes filmes, mas sem "mensagens e valores". O cineasta, que preferiu não dar nomes, disse que há "diretores fabulosos" que "estão completamente pervertidos em termos históricos". Por isso, afirmou, o resultado dos filmes é "horrível", mesmo tendo recebido indicações ao Oscar.

De fato, Oliver Stone sempre deixou claro sua opinião, principalmente em seus filmes que sempre pautaram a uma boa controvérsia. Ótimos exemplos disso são os filmes JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar (JFK, 1991), Nixon (Nixon, 1995) e agora W. (W. 2008), uma crônica dramatizada sobre a personalidade e o governo de George W. Bush. Oliver Stone dedicou grande parte de seu cinema a figuras influentes e momentos polêmicos da história, americana ou não. Essa tendência engloba desde o amigo Fidel Castro – nos documentários Comandante (2003) e Looking for Fidel (2004) - até um ícone do rock, como Jim Morrison, em The Doors (1991). Mas nenhum tema ocupou tanto suas idéias como a Guerra do Vietnã, visitada na trilogia composta de Platoon (Platoon, 1986), Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July, 1989) e Entre o Céu e a Terra (Heaven &Earth, 1993). O próprio Stone – nascido em Nova York em 15 de setembro de 1946 - em 1967 largou a Universidade de Yale, onde estudava artes, para se alistar e lutar nas trincheiras próximas à fronteira com o Camboja. Foi ferido e condecorado. Até esse momento, sua trajetória parecia com a do novato e idealista soldado Chris Taylor, o protagonista de Platoon, inclusive no que diz respeito a fumar maconha, hábito que levaria o diretor a ser detido e preso no México aos 21 anos e ainda hoje lhe cria situações embaraçosas com a polícia.

No retorno aos Estados Unidos, Stone estudou cinema na New York University, onde foi colega de nomes como Martin Scorsese. Nesse período, realizou seu primeiro curta-metragem, Last 1 Year in Viet Nam (1971), trabalho de estudante, mas que já apontava seus interesses. Três anos depois, Stone começa a rodar seus primeiros filmes, além de trabalhar como roteirista para outros diretores. Antes mesmo de se afirmar na direção, ganhou o primeiro Oscar pelo roteiro de O Expresso da Meia-Noite (Midnight Express, 1978), de Alan Parker. O prêmio impulsionou sua carreira, mas Stone teve de hipotecar a casa e contar com a ajuda de um produtor britânico para alavancar sua primeira produção de calibre como diretor. Salvador - O Martírio de um Povo (Salvador, 1986) abordava a ditadura em El Salvador visto pelos olhos de um jornalista (James Woods). A fita inaugurou a vertente política do cinema de Stone, quase sempre pautado por buscar fatos novos e reveladores acerca de momentos e personagens históricos. Platoon, o filme seguinte, elevou Stone ao primeiro time dos realizadores americanos e lhe rendeu o primeiro Oscar como diretor. A produção de inspiração autobiográfica unia qualidades raras para o período, especialmente ao trazer a público a Guerra do Vietnã como ela foi. Certa vez, Stone justificou o interesse pelo tema da guerra de forma mais ampla: "Nacionalismo e patriotismo são duas das forças mais diabólicas que conheço neste ou em qualquer outro século e causam mais guerras, mortes e destruição para a alma e a vida humana do que qualquer outra coisa." Os prêmios e a consagração mostraram que o diretor estava no caminho certo e que sua interpretação do Vietnã vinha para cutucar sem fantasia uma das feridas da história americana. A certeza confirmou-se no segundo e terceiro filmes sobre o tema. Com Nascido em 4 de Julho e Entre o Céu e a Terra, Stone fornecia variados pontos de vista do conflito. No primeiro título, adaptou o livro de Ron Kovic, que descreve seu retorno para casa como um herói mutilado (interpretado por Tom Cruise) e a difícil readaptação. No filme seguinte, a intenção ganhou contornos românticos na história de uma jovem vietnamita que se envolve com um militar America no (Tommy Lee Jones).

Nem sempre as figuras reais que interessam a Stone são poderosas como os presidentes que retratou. Um exemplo foi o radialista Alan Berg, que comandava um talk show de sucesso numa rádio de Denver, Colorado (EUA), quando foi assassinado por um grupo de extrema direita, em 1984. Berg inspirou o personagem Barry Champlain (Eric Bogosian) de Talk Radio - Verdades Que Matam (Talk Radio, 1988). Em seguida, veio The Doors (1991). Sobre a ascensão e morte do cantor e líder da banda, Jim Morrison (Val Kilrner).

Outro filme de grande repercussão foi Wall Street - Poder e Cobiça (Wall Street, 1987), sobre o trabalho estressante no mercado financeiro de Nova York, uma velha e milionária raposa da Bolsa de Valores (Michael Douglas) acolhe e ensina um ambicioso aprendiz (novamente Charlie Sheen) a progredir e ganhar muito dinheiro. O pai do diretor, Louis Stone, foi um corretor de ações que fez fortuna e possibilitou ao filho freqüentar as melhores escolas. Perdeu tudo mais tarde e separou-se da mulher quando Oliver Stone era ainda adolescente. Mas, nas férias com a mãe na França, onde ela nasceu, seu pai lhe arranjou empregos de verão na área financeira. O futuro diretor tinha, assim, uma experiência pronta para levar à tela.

Neste ano, Oliver Stone, que disse que não tem pensado em se aposentar em breve, apresentou em Cannes o filme "Wall Street - O dinheiro nunca dorme" (Wall Street: Money never sleeps), sequência do sucesso de 1987. Passados mais de 20 anos da primeira parte do filme (que volta a ter como ator principal Michael Douglas) o diretor demonstrou frustração ao ver que as normas de funcionamento de Wall Street não mudaram tanto como esperava. "Pensei que o sistema seria corrigido com o tempo, mas isso não aconteceu", lamentou Stone, cujo novo filme coloca em destaque a avareza do mundo das altas finanças e que foi rodado em plena explosão da atual crise financeira mundial.
No final deste mês, o diretor virá ao Brasil para divulgar o documentário "South of the border" ('ao sul da fronteira', em português), que aborda o avanço das forças políticas de esquerda na América Latina e registra sua viagem por cinco paísas da América Latina e as conversas com os presidentes Hugo Chavez, Evo Morales, Lula, Fernando Lugo, Rafael Correa, Raul Castro, Christina Kircher e seu mario e ex-presidente Nestor Kirchner. Vale a pena assistir ao trailer abaixo.

FILMOGRAFIA
2010 - Wall Street - O dinheiro nunca dorme (Wall Street: Money never sleeps)
2009 - Ao Sul da Fronteira (South of the Border)                            
2008 - W.
2006 - As Torres Gêmeas (World Trade Center)
2004 - Looking for Fidel
2004 - Alexandre (Alexander)
1999 - Um Domingo Qualquer (Any Given Sunday)        
1997 - Reviravolta (U Turn)        
1995 - Nixon
1994 - Assassinos por Natureza (Natural Born Killers)   
1993 - Entre o Céu e a Terra (Heaven & Earth)  
1991 - JFK - A pergunta que não quer calar (JFK)             
1991 - The Doors
1989 - Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July)         
1988 - Talk Radio             
1987 - Wall Street - Poder e cobiça (Wall Street)             
1986 - Platoon  
1986 - Salvador - O martírio de um povo (Salvador)
1981 - A mão (The Hand)                            
1979 - Madman of Martinique (curta)  
1974 - Seizure  
1971 - Last Year in Vietnam (curta)





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