quinta-feira, 10 de junho de 2010

RETRATOS DE UM BRASIL DESCONHECIDO

A população indígena no Brasil passa de 700 mil pessoas. E o que sabemos sobre esse povo? Mesmo no século 21, nós não temos uma idéia clara sobre os índios brasileiros. A situação não é diferente do século 19, quando Rodolfo Bernardelli, um dos principais escultores brasileiros, fez do povo indígena o principal tema de suas obras.

José Maria Rodolpho Oscar Bernardelli nasceu em 1852, no México, onde viveu por poucos anos. Em companhia da família deixou seu país natal em 1866, passando pelo Chile e Argentina e fixando moradia no Brasil, primeiro no Rio Grande do Sul e depois no Rio de Janeiro. Todos os membros de sua família eram artistas: o pai era violinista, a mãe era bailarina, o irmão Henrique Bernadelli era pintor e seu segundo irmão, Félix Bernardelli era pintor e musico. Sendo assim, parece óbvio que desde jovem Rodolfo Bernardelli se interessava por artes. Aos 14 anos, seu interesse pela escultura era demonstrado pela curiosidade com que assistia às aulas do professor Chaves Pinheiro, um dos principais artistas da época. Diariamente, utilizando-se de pernas de pau, o garoto observava o trabalho do mestre através das janelas do atelier. Sua persistência levou o professor a se interessar por ele e em pouco tempo era convidado a participar das aulas. O próximo passo foi o ingresso na Academia Imperial de Belas Artes, o que aconteceu entre 1870 e 1876.

Em 1877, tendo recebido o prêmio de viagem ao exterior da AIBA, Rodolfo Bernardelli viajou para a Europa, a fim de se aperfeiçoar em Roma. Naquela cidade produziu alguns de seus principais trabalhos de temática religiosa, como Fabíola (1878).




No tema indianista, produziu a escultura Faceira, em 1880. Nela, Bernardelli não apresenta características étnicas. Seus cabelos estão presos em um penteado caprichoso demais para a representação de uma índia, os pés deveriam ser espalmados pelas caminhadas contínuas e pelo exercício de subir em árvores, as mãos deveriam ser descuidadas, e os músculos rijos pelas atividades desenvolvidas, e tudo isso, no entanto, não foi realizado pelo artista. Bernardelli rompe com a costumeira representação de tipo indígena e cria uma mulher excessivamente adornada, uma figura caricatural.



Em 1895, fez Moema, uma escultura em tamanho natural, feita cinco anos depois que Rodolfo Bernardelli assume a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Obviamente, a obra se baseia no livro Caramuru de Santa Rita Durão. O momento representado é um dos trechos mais famosos do Caramuru: “‘Ah Diogo cruel!’ disse com mágoa. E sem mais vista ser sorveu-se n’água”. Nessa obra é possível notar que Bernardelli preferiu recorrer ao momento em que o corpo da índia afogada ainda não chegou completamente à praia, dando dessa forma grande intensidade dramática à cena.



Já o Guarani, realizado para o Monumento a José de Alencar, inaugurado em 1897, era a obra em baixo-relevo que mais agradava ao artista. No trabalho, Bernardelli criou algumas figuras com acentuado relevo e dispôs os personagens em planos diversos, sugerindo assim diferentes profundidades na composição. Os índios armados com tacapes, ou ainda, agachados ao pé de uma fogueira, revelam em sua expressão e atitude um caráter de agressividade. Bernardelli explora nesse trabalho os conceitos de selvageria e de aceitação do colonizador português, inspirado por personagens da literatura brasileira.

Com a estatueta Paraguaçu (1908), Bernardelli muda seu modo de representar o índio. Em vez de um personagem excluído da formação do país, em Paraguaçu vê-se o selvagem adaptado à civilização, que irá dar continuidade ao processo histórico do país. Nele, Bernardelli representa a índia colonizada, personagem do livro de Santa Rita Durão, que segura com naturalidade uma espingarda, a arma que Caramuru utilizou para surpreender os selvagens.

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