quinta-feira, 1 de julho de 2010

O NOVO ROBIN HOOD

O diretor Ridley Scott, do alto de suas sete décadas de existência, cinco delas dedicadas ao cinema, já deu inúmeras provas de que grandes filmes começam com grandes histórias. O diretor é o responsável por dois dos maiores clássicos modernos de Hollywood: “Alien, o Oitavo Passageiro”, de 1979, e aquele que foi reconhecidamente seu maior êxito, “Gladiador”, de 2000. Recentemente, Scott voltou a fazer o que mais gosta: filmar roteiros épicos. Dessa vez, o diretor escolheu um dos personagens mais conhecidos e queridos da literatura mundial: Robin Hood.

Ridley Scott encontrou um instante turbulento da história da Inglaterra – o fim do século XII, quando o rei, Ricardo Coração de Leão, estava ausente havia dez anos nas Cruzadas e o reino atravessava toda sorte de convulsão – um momento real que poderia ter provocado o surgimento do bom ladrão Robin Hood no condado de Nortingham. Nesse período, a rainha mãe, a formidável Eleonor de Aquitânia (no filme, interpretada por Eileen Atkins), havia até ali segurado as pontas como regente. Mas, ao morrer o rei, teve de transmitir o cetro a seu caçula, o fracote e despreparado John (interpretado por Oscar Isaac) que é manipulado pelo traidor Sir Godfrey (Mark Strong).

O curioso está no enfoque que o diretor dá a uma história tão conhecida como a do ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres: Ridley Scott puxa dela um fio que a torna quase irreconhecível. Robin agora é um arqueiro no exército de Ricardo Coração de Leão. Com a morte do rei, ele volta para a Inglaterra e assume a identidade de um cavaleiro morto em batalha, Robert Loxley. Isso o leva a conhecer o pai deste, Walter (o sueco Max von Sydow, em um de seus melhores papéis nos últimos anos), que lhe pede para continuar a se passar por seu filho. Isso porque se o Xerife de Nottingham (Matthew Macfadyen) descobrir que Sir Robert morreu, todas as suas terras voltarão para a coroa. Para todos os efeitos, então, a partir do momento em que chega a Nottinhgam, Robin deixa de ser Robin; passa a ser Robert Loxley, senhor de uma vasta porção de terras e marido da bela Lady Marian (Cate Blanchett).

Até aí nada que se pareça com o Robin Hood que nós conhecemos. Na verdade, o filme mostra o Robin fazendo apenas um roubo na estrada. Ao motivo é que o filme tenta focar acontecimentos que culminaram na criação do mito Robin Hood. Se a opção do cineasta e o trabalho do roteirista causam certo estranhamento no início da exibição do filme, logo percebemos que a narrativa tornou-se bem realista e divertida.

O elenco de estrelas garante a qualidade do longa. Russel Crowe, tem ótima atuação e consegue cumprir bem seu papel de herói virtuoso. Cate Blanchett, como sempre, tem uma atuação maravilhosa, dando destaque a personagem que originalmente não receberia muito destaque na trama (embora tenha um aparecimento bizarro na batalha no final do filme).
 
Entre os coadjuvantes, o veterano Max Von Sydow dá um show à parte. Depois de uma incrível interpretação como o vilão de Sherlock Holmes (2009), Mark Strong vem se firmando como um ator especialista em vilões aos quais adoramos odiar. Mas o maior destaque sem duvida é do ator Danny Huston, que interpretou o Rei Ricardo, que apesar da curtíssima aparição, consegue ser mais profundo do que muitos personagens do longa.

Com relação à parte técnica do filme, é um fato que Ridley Scott sabe comandar épicos como ninguém. Utilizando muito bem as paisagens da Inglaterra, o cineasta em colaboração com seu diretor de fotografia John Mathieson nos mostram imagens de tirar o fôlego das belezas naturais inglesas, além de usar tais recursos dentro das cenas de batalha.

Um defeito do roteiro é a desvalorização de ótimos personagens, principalmente os companheiros de Robin Hood como o pequeno John e Will Escartate. O filme simplesmente rouba a importância que esses personagens têm nos contos. Basta notar que quase não há diálogos entre o herói e seus companheiros ou com qualquer outro plebeu na Inglaterra. O único personagem a ter mais destaque foi o divertido Frei Tuck (Mark Addy).

Apesar de não chegar aos pés dos filmes citados no inicio, Robin Hood é um bom filme. E para aqueles que gostam do personagem, a boa notícia é que o diretor já pensa em uma seqüência. A má noticia é que o personagem não será novamente retratado como o ladrão que rouba dos ricos para dar aos pobres. Se o filme ganhar uma continuação, Robin Hood, a exemplo desse filme, terá um papel decisivo na história forçando o rei John a assinar a Magna Carta, o que na verdade ele fez, em 1215, para aplacar uma nação à beira da guerra civil.
 
Robin Hood (Nottingham, 2010)
Gênero: Ação
Duração: 131min

Estréia: EUA-Brasil - 14 de maio de 2010
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Ridley Scott

ELENCO
Russell Crowe (Robin Hood)
Cate Blanchett (Lady Marian)
Mark Strong (Sir Godfrey)
Oscar Isaac (King John of England)
Mark Lewis Jones (Thomas Longstride)
Mark Addy (Friar Tuck)
William Hurt (William Marshal)
Danny Huston (King Richard the Lionheart)
Eileen Atkins (Eleanor of Aquitaine)
Max von Sydow (Sir Walter Loxley)










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